Falar sobre alguns assuntos não é fácil. Menstruação é um deles. Tanto que quando a reportagem do UOL Esporte tentou falar com um dos médicos da delegação brasileira sobre o assunto, ele se esquivou: “Melhor perguntar para a ginecologista”, falou, com um sorriso embaraçado.
Sarah Menezes, a campeã olímpica de judô, não liga muito para isso. Tanto que, ao revelar que usa esse período como arma nas competições, o fez de forma natural, no meio de uma explicação que nada tinha a ver com o assunto. “Temos acompanhamento para tudo. Psicológico, com ginecologista. Até nosso período de menstruação é controlado”, disse, como se não fosse nada de mais.
Não deveria ser. “Cada atleta lida com isso de um jeito. Algumas sofrem com TPM. Outras sangram mais. Para mim é bem tranquilo. Eu prefiro, até. Parece que dá mais força”, explicou. Contou até que, em sua estreia nos Jogos Olímpicos, no dia 4, estará menstruada. Foi uma estratégia.
“Nós programamos o ciclo menstrual de cada atleta usando feedback que elas mesmo dão. A Sarah se sente melhor menstruando. Então, é o que fazemos. É possível. Tem muitas atletas que, se lutarem menstruadas, não conseguem render. Outras ficam mais sensíveis. Depende muito”, confirma a técnica Rosicléia Campos.
A Confederação Brasileira de Judô conta com a ginecologista Tathiane Parmigiano, uma das pioneiras no ajuste dos ciclos menstruais para atletas. Ela trabalha com atletas do Time Brasil desde 2010. Já foi aos Jogos de Londres-2012 e hoje está na delegação da Rio-2016. “Muitas atletas sofrem com cólicas e TPM. Podemos ajudar na performance delas, preparando para que o ciclo não as pegue em competições importantes”.
Bruno Doro
Do UOL, no Rio de Janeiro
