Chefe do tráfico morto em tiroteio no Juramento é filho de PM reformado

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Barricada na entrada da comunidade Barricada na entrada da comunidade
Pelo menos seis pessoas morreram no confronto entre traficantes pelo controle do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, Zona Norte do Rio. Entre os mortos está Bruno Alberto Botelho Jaccoud, de 30 anos, o Palmito, chefe do tráfico na comunidade. Filho de um policial militar reformado, ele foi morto na região conhecida como Igrejinha.

O pai, que levou o corpo do filho para uma praça em um dos acessos à comunidade, disse que o filho foi traído pelos próprios membros da facção criminosa que controlava o morro. De acordo com o homem, que não quis se identificar, o filho foi atingido por um tiro nas costas, que seria um sinal de uma troca de comando forçada.

O policial militar, de 61 anos, contou que este é seu segundo filho que morre envolvido com o tráfico de drogas. Há cerca de dez anos, Daniel Jaccoud, então com 19 anos, foi morto na Favela da Quitanda.

— Dei um apartamento para cada um deles. O Palmito tinha três carros e duas motos que eu dei para ele, mas escolheu essa vida. O que que eu vou fazer? Além de policial aposentado, eu tenho um escritório de contabilidade. Sempre cuidei bem dos meus filhos. Agora estou prestes a enterrar o meu segundo filho no cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita — lamentou

Outro morto na guerra do tráfico foi Jonny Ferreira dos Santos, de 16 anos. Pai do jovem, Claudio Silva de Souza, de 45 anos, ajudante de caminhão na Ceasa, em Irajá, lamentou a morte do filho. O rapaz foi morto provavelmente à queima-roupa, já que havia uma cápsula de bala ao lado do corpo e uma perfuração no olho. Ele foi assassinado na localidade conhecida como Beco da Onça, na parte alta da favela.

— Tinha deixado ele em casa antes de sair no fim da tarde (de sexta-feira). Depois eu não encontrei mais ele. Eu não tinha controle sobre o meu filho. Não dava satisfações de nada. Eu sempre orientando ele a seguir o caminho do bem. Mas fazia o que queria. E agora, meu Deus? Vou dar atenção aos meus outros quatro filhos — disse o pai ao lado do corpo do filho.

Um pouco mais adiante, no interior de uma casa, foi encontrado corpo de uma jovem, com, aparentemente, 20 anos. Na Rua Tupiniquins, um dos acessos ao Morro do Juramento, foi encontrado o corpo de um homem que, segundo moradores da região, é inimigo da facção que controlava o juramento e seria do Morro do Alemão.

Embaixo das escadas da passarela que corta a linha do metrô, próximo à estação de Thomaz Bastos foi encontrado o corpo de um homem morto a tiros identificado apenas como William e pelo apelido Schreck. Segundo uma prima da mulher dele, William é do Juramento. Nos fundos da casa número três da Rua União, numa escadaria que dá acesso ao Juramento, também foi encontrado corpo de um homem morto a tiros. Segundo moradores, ele havia invadido a residência para se esconder, mas foi descoberto e executado.

Na comunidade, o clima era de muita tensão na manhã deste sábado. Pequenos comércios no interior da comunidade não abriram suas portas. Mas o presbítero Cristiano Costa, de 35 anos, da igreja evangélica pentecostal de Vicente de Carvalho — que fica numa das partes mais altas do Juramento —, fez questão de abrir as portas para um sermão para apenas duas fiéis que atenderam ao seu chamado.

— Eu convido todos eles, todos esses meninos para cá. Noventa por cento dos que vêm aqui são libertos. Mas é preciso acreditar na palavra de Deus. A maioria dos que são convidados não querem saber. Aqui somos diferentes, não tememos nada de ninguém. Mas somos prudentes — disse o religioso, nascido e criado na comunidade.

Fonte: Extraglobo.

Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo