Adolescentes atendidos pelo Projeto “Se a Vida Ensina, eu sou Aprendiz” participam de palestra sobre masculinidade tóxica

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Na manhã de hoje, 15, os adolescentes atendidos pelo Projeto “Se a vida ensina, eu sou aprendiz” participaram da palestra “Masculinidade Tóxica”, ministrada pelo psicólogo Cristiano Corrêa de Paula, do Núcleo de Perícia Psicossocial dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Porto Velho. Ao abordar este e outros temas multidisciplinares, o projeto, realizado pela Escola da Magistratura do Estado de Rondônia (Emeron), promove um espaço de reflexão e aprendizado de novas posturas para a convivência sadia em sociedade.
A masculinidade tóxica se refere ao conjunto de mitos que a sociedade transmite aos garotos e aos homens sobre o que significa ser um “homem de verdade”. Esses mitos (meninos não choram, não pode demonstrar fraqueza, homem tem que beber) provocam danos no homem, ao criar ameaças implícitas à sua identidade caso não aja de acordo com tais expectativas, e naqueles que o cercam, que acabam sendo submetidos a uma convivência abusiva.
Uma das principais características da masculinidade tóxica, apontada por Cristiano, é a violência. “Vocês já ouviram: se tu apanhar na escola, vai apanhar em casa também porque filho meu não leva desaforo para casa. A ideia da masculinidade como processo de identidade se fez através da agressão e da violência. E isso é um problema, porque a gente entende que só passa a ser homem quando a gente manifesta agressão”, afirmou.
Cristiano, que atua no atendimento a homens acusados de agressão doméstica, destacou o adoecimento psíquico da população masculina como reflexo de uma cultura que não ensina aos homens como lidar com seus sentimentos. “Nós homens estamos adoecendo em processos de depressão e suicídio porque não suportamos a dor da separação, porque não aprendemos a ouvir um não de uma mulher”. A rejeição, ao não ser compreendida e aceita, se transforma em agressões, o que faz do Brasil um dos países com maiores índices de violência doméstica e feminicídio.
Outro dano causado pelo comportamento agressivo do homem no ambiente familiar é a influência sobre os filhos, que, no futuro, podem reproduzir esse tipo de comportamento. “Segundo levantamentos do 1º Juizado da Infância e Juventude, 100% dos adolescentes que respondem medida socioeducativa viram o pai bater na mãe. E qual o modelo que esse filho teve de amor? Porrada. Ele aprendeu isso com os pais. ‘Se meus pais estão juntos e meu pai bate na minha mãe: é assim que ama’. Então significa que o modelo de amor que se aprende é violento e isso vai ser impresso na sociedade”, concluiu.
A segunda identidade do masculino abordada foi o consumo de álcool ou drogas, o que, em muitos casos, potencializa o comportamento violento. O último aspecto de identidade explanado foi a dificuldade de manifestação do afeto. “A gente não aprendeu a manifestar afeto. A gente tem dificuldade de manifestar afeto para a mãe. A mãe chega na visita (na unidade de internação) e quer um abraço, mas ela sabe que você não dá abraço. Isso causa um sofrimento nas mães. Falar que ama o pai? Isso é muito distante, quase inexistente”, pontuou.
“Mas afinal de contas, o que é ser homem nessa história toda? Porque ser homem a partir da violência, do consumo de álcool ou outras drogas é um negócio de fora que não nasce da gente. Se eu tiro a violência, o álcool e as drogas, o que sobra?”, questionou, reafirmando a necessidade de uma postura masculina voltada ao cuidado com os que o cercam, mas principalmente consigo mesmo. “A influência de fora exerce muita força em nós e a gente precisa ficar atento para entender: eu nasci para fazer o que tenho que fazer, enquanto masculino, ou eu estou repetindo e fazendo coisas que disseram para eu fazer? Afinal de contas, quem sou eu nessa história?”, indagou.
Cristiano falou ainda sobre como as influências alteram a percepção de si mesmo. “Vocês acabaram adotando uma identidade que não era de vocês porque absolutamente ninguém nasce para ser bandido ou ser violento. No caminho alguém disse e vocês acreditaram. Se começarem a dizer que vocês nasceram para ser médicos, advogados, se isso acontecer todos os dias, em algum momento vocês vão acreditar. Mas o principal, quem tem que dizer isso não é quem está fora, quem tem que dizer isso para vocês são vocês mesmos. Vocês escolhem se vão acreditar no que os outros estão dizendo ou se vão acreditar em vocês mesmos. É um processo de construção mental”.
Finalizando a palestra, o psicólogo fez um apelo aos jovens. “Deixa eu olhar para os olhos de vocês e dizer o seguinte: não deixem esse menino que nasceu para ser alguém, morrer. Não deixem que essa masculinidade tóxica influencie vocês. Não deixem que esse menino que um dia sonhou em ser alguém, morra”.
Fonte: Assessoria de Comunicação – Emeron
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