Investigadores da 26ª Delegacia de Polícia vão ao Acre para aprofundar as apurações sobre o caso. As mulheres deixaram o estado há cinco anos, levando as duas crianças (foto: Walder Galvao/CB/D.A Press).

Rhuan Maycon, menino que foi esquartejado, teve pênis cortado há um ano

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As acusadas de matar o garoto de 9 anos o mantinham em casa, privado de ir à escola. A menina de 8 anos que presenciou o assassinato reencontrou ontem o pai

Em Samambaia, uma garota de oito anos vivia uma rotina de medo. Sem ir à escola há pelo menos dois anos, ela saía de casa apenas para ir à igreja. Dentro da residência, tinha pouca liberdade e os sinais de maus-tratos eram visíveis. O sofrimento chegou ao fim na manhã de ontem, quando a pequena conseguiu reencontrar o pai, o servidor público Rodrigo Oliveira, que a procurava havia cinco anos. Ele ficou sabendo do paradeiro da filha após a morte do irmão de criação dela, Rhuan Maycon, de 9 anos, que foi assassinado pela própria mãe, Rosana Auri da Silva Candido, 27, e pela companheira dela, Kacyla Priscyla Santiago Damasceno, 28, mãe da menina.
Kacyla fugiu com a filha de Rio Branco, no Acre, em 2014, junto com Rosana e Rhuan. Eles passaram por dezenas de endereços, como Trindade (GO), Goiânia (GO) e Aracaju (SE), até chegar ao Distrito Federal. Há dois meses, moravam em Samambaia, na casa onde o garoto foi assassinado e esquartejado. Ainda não se sabe se a garota viu o momento da morte de Rhuan, mas, ao chegar à delegacia, ela fez um desenho de um corpo ensanguentado com os órgãos de fora. Aos investigadores da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte), as mulheres disseram que a menina dormia na hora do crime.
De acordo com o Conselho Tutelar da região, as duas crianças eram maltratadas pelas acusadas e obrigadas a manterem relações sexuais entre elas. Viviam em cárcere privado, segundo constataram agora os conselheiros. No abrigo, a garota agradeceu pelas refeições e informou que só comia pão havia três dias. Há cerca de um ano, Rhuan teve o pênis cortado pelas mulheres. O procedimento foi feito em casa e, desde então, ele não foi a uma unidade de saúde. Aos agentes, as acusadas contaram que o menino queria ser uma garota e, por isso, o teriam mutilado.
Rodrigo Oliveira, pai da filha de Kacyla, desembarcou no Aeroporto Internacional de Brasília às 8h30 de ontem. Em seguida, foi à delegacia, em Samambaia, para se reunir com o delegado e com representantes do Conselho Tutelar. Poucos minutos depois, seguiu para o abrigo onde a filha estava, em Taguatinga. Bastante agitada, com pés ressacados, cortes na cabeça e ferimentos no pescoço, a pequena, finalmente, conseguiu reencontrar o pai. Emocionado, ele não teve condições de conversar com a equipe do Correio. “Consegui achar minha filha por causa de uma tragédia. Não é o momento ideal para falar sobre o assunto”, lamentou.
Preventiva
Rosana e Kacyla passaram por audiência de custódia na manhã de ontem. Ambas tiveram a prisão preventiva decretada e foram encaminhadas à carceragem do Departamento de Polícia Especializado (DPE). Esta semana, serão levadas à Penitenciária Feminina do Distrito Federal. “Elas responderão por homicídio qualificado, por motivo torpe, sem possibilidade de defesa da vítima, e por se tratar de um menor de 14 anos. A pena varia de 12 a 30 anos de prisão”, informou o delegado à frente do caso, Guilherme Sousa Melo.
Ele acrescenta que as mulheres serão investigadas também por manter as crianças em cárcere privado e por lesão corporal. O investigador ressaltou que há suspeitas de que os meninos teriam sido agredidos em Goiânia (GO), um dos endereços usados pelas acusadas durante o período de fuga. Sousa Melo irá ao Acre na quarta-feira. “Vamos fazer um panorama externo das autoras e da vítima”.

Velório


‘Quero dar um enterro digno ao meu filho’, diz Maycon Lima, pai de Rhuan(foto: Arquivo Pessoal)

“Quero dar um enterro digno ao meu filho”, desabafou o pai de Rhuan, Maycon Douglas Lima de Castro, 27. Desempregado, ele se desesperou quando soube da morte do menino, e por não ter condições financeiras de fazer o transporte do corpo. No entanto, de acordo com o Conselho Tutelar, a Justiça do Acre arcará com as despesas do traslado. “Meu menino estava desaparecido. Fizemos de tudo para encontrá-lo. Eu nunca perdi minhas esperanças, até meu pai me chamar e me contar toda essa história. Ainda é difícil de acreditar”, se emocionou.
Maycon contou que teve um relacionamento rápido com Rosana. “Ela morava na casa dos meus pais junto com Rhuan. Eu já estava separado dela havia cinco anos, quando decidimos pedir a guarda. Depois disso, ela sumiu. Toda vez que encontrávamos uma pista, a gente viajava atrás do meu filho”, lembrou. De acordo com ele, o desespero tomou conta da família quando o garoto sumiu. “Todo mundo era muito apegado, por isso, nunca desistimos de procurá-lo”, ressaltou.

Fonte: CB/Walder Galvão